quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Braço de ferro

Se não fosse esta mania de pensar tanto no que sinto, talvez sentisse mais, ou melhor, e isso me impedisse de passar noites a fio acordada, mergulhada no silêncio opresivo, apenas aliviado pela magia do quarto da Lua a crescer que me faz acelerar o sangue nas veias quando me levanto para por aquelas musicas que me fazem lembrar tanto de ti e me sento em frente ao computador a rever algum do nosso passado.
Se não fosse esta mania de pensar tanto se calhar conseguia ser melhor. Tentava interessar-me por um qualquer e tornava-me politicamente correcta. Mas quando me levanto a meio da noite e tento aquecer o coração congelado em doses de chocolate quente, na esperança que o sono regresse, só te consigo ver a ti, os teus cabelos desarrumados pela paixão das minhas mãos sobre a tua cara, a tua boca perfeita pequena e grande ao mesmo tempo. E então fecho os olhos e o teu cheiro volta a inundar a sala mal iluminada e quase te mexes, primeiro uma perna depois a outra, vejo-te a sair do meu olhar, caminhas devagar com a leveza de um fantasma e abraças-me pelos ombros, mas não te sinto a apertar o peito contra o meu porque os sonhos nunca se tornam realidade e por isso desligo a música que me embala, dissipo-te no ar com um gesto brusco, enxugo as lágrimas que me caiem no rosto, apago a luz para me esquecer da tua imagem.
Se calhar enganaram-se no armazenamento das almas e quando chegou a hora da redistribuição puseram-me no corpo errado, porque eu sei, que até já te amei mais do que uma vez, mas isto deve ser de pensar demais, sou eu aqui às voltas com os pensamentos e com a vida.
Só sei que desde que me abandonaste, o meu coração congelou e passo as noites a olhar para a Lua à espera que me chamem outra vez ao armazém e me ponham no corpo certo para te poder amar sem ter que pensar demais em tudo para me esquecer do que sinto, sem ter de fazer todos os dias braço de ferro com o mundo.

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